Do Parque infantil à cidade brincável

E se o ato de brincar voltasse a ocupar as ruas das nossas cidades? E se esse brincar cruzasse gerações num espaço público inclusivo e pensado a partir do olhar das crianças e da comunidade? É precisamente isso que propõe o projeto Serpentina: um convite à cocriação de espaços públicos centrados nas pessoas.

A reabilitação do Parque Infantil do Largo Soares dos Reis, no Porto, marca o início deste movimento. Queremos devolver a rua às crianças e transformar o espaço público num lugar de brincadeira, encontro intergeracional e construção de memórias.

Começámos por um parque. Começámos pelas crianças. Mas a Serpentina vai mais longe: desenha-se nas ruas do bairro, passa pelas escolas da vizinhança, atravessa zonas residenciais, envolve organizações locais e conta com o contributo de especialistas em design, arquitetura, educação e motricidade. Um modelo de transformação urbana replicável no futuro, em qualquer cidade, sempre que haja moradores, famílias, crianças e espaços comuns.

De parque infantil a parque 
verde intergeracional

De parque infantil a parque
verde intergeracional

A ideia base da reabilitação do Parque Infantil do Largo Soares dos Reis é a de criar um parque verde intergeracional em que o espaço de jogo fica integrado em toda a área ajardinada. Múltiplos usos e zonas distintas comunicam de forma natural e integrada, acolhendo não só quem brinca, como quem acompanha as crianças ou procura simplesmente um lugar para estar. Através de metodologias participativas, escutamos crianças, pais, famílias, comerciantes e residentes para guiar o desenho deste parque, que será construído pela autarquia.

O projeto de requalificação garante a preservação das árvores centenárias, a utilização de pavimentos naturais e a criação de estruturas abertas e multifuncionais pensadas para diferentes idades, favorecendo a autonomia, o desafio e a criatividade. Propondo a reorganização da mobilidade, a redução da circulação e do estacionamento em pontos estratégicos, o novo parque quer afirmar-se como um espaço de tranquilidade e contacto com a natureza, suavizando o ritmo urbano e promovendo bem-estar no coração da cidade em resposta às necessidades dos seus habitantes.

De lugar de ninguém a espaço de experimentação coletiva

De lugar de ninguém a espaço de experimentação coletiva

Desafiamos a autarquia a colocar 3 bancos de jardim num “triângulo verde” sem uso. Vamos reclamar este espaço e fazer dele um parque para as pessoas!

Na interceção da Rua Barão de São Cosme com a Rua Joaquim António Aguiar, a cerca de 2 minutos a pé do parque infantil do Largo Soares dos Reis, encontrámos um espaço brincável. Um canteiro verde, uma mão cheia de árvores, piso natural, um espaço perfeito para fluir a imaginação. Aqui vai nascer o Parque da Alegria!

Pretendemos que seja um espaço de brincadeira livre e não estruturada que ofereça às crianças um ambiente seguro onde podem explorar, imaginar e brincar com total liberdade. Um laboratório vivo, para observar como as crianças interagem, como se relacionam e o que surge da sua criatividade. Num futuro próximo, durante as obras no Largo Soares dos Reis, é aqui que se vai brincar.

De estrada dos carros a rua das pessoas

De estrada dos carros a rua das pessoas

A Serpentina propõe uma rede de espaços públicos brincáveis, conectando os diferentes locais onde as crianças da comunidade brincam e convivem. O objetivo é criar percursos mais seguros, sustentáveis e centrados na infância, que incentivem o brincar livre e a mobilidade ativa. Estas ideias estão a ser discutidas com os vários departamentos municipais envolvidos. 

Com o apoio da comunidade, pretendemos que a Rua Joaquim António de Aguiar – que liga uma escola primária a um parque – seja progressivamente transformada numa zona de pedonal. Numa primeira fase, seria instituída uma zona de zona de convivência, onde os peões têm prioridade sobre os automóveis, através de medidas de redução da velocidade do trânsito, como a diminuição da largura da faixa de circulação, a elevação das passadeiras, o nivelamento do passeio com a rua e a plantação de vegetação fora do eixo retilíneo dos estacionamentos. Um teste piloto para a criação de ruas mais humanas e brincáveis, sobretudo nas imediações das escolas.

Do trânsito em frente à escola a rua segura

Do trânsito em frente à escola a rua segura

Na Escola da Alegria, há um entra e sai diário de crianças que chegam à escola acompanhadas por mães, pais, familiares e amigos. A Serpentina propõe transformar o troço da Rua São Vítor, a futura “Rua da Escola”, numa extensão de espaço público seguro e acessível, através do corte do trânsito motorizado, pelo menos durante os horários de entrada e saída das crianças. A iniciativa promove a mobilidade ativa de crianças e famílias, incentivando deslocações a pé, de bicicleta ou outros veículos não-motorizados, contribuindo para a redução do tráfego e da poluição junto às escolas e para o fortalecimento da autonomia infantil.

Mesmo em frente, na Praça da Alegria, vive-se um espaço cheio de tradição popular, cenário dos mercados de produtos hortícolas e das festas de São João, quando a praça se enche de pessoas, cor, balões e partilha entre vizinhos. A Serpentina sonha, num futuro próximo, estender a intervenção a esta praça, unindo o recreio da Escola da Alegria à Praça da Alegria, criando um ambiente livre de automóveis, pensado para o brincar, o encontro e a convivência comunitária.

De recreio de alcatrão a recreio naturalizado

De recreio de alcatrão a recreio naturalizado

A Serpentina alia-se à Associação de Pais da Escola da Alegria pela urgência de requalificar o recreio escolar. O objetivo é substituir o alcatrão por chão natural, transformando-o num espaço sustentável e plantar árvores que convidem à exploração e ao movimento livre. Assim, as crianças poderão usufruir das sombras, trepar, baloiçar e criar os seus próprios desafios, descobrindo os limites e potencialidades do corpo e da imaginação.

Acreditamos que todos os dias são dias para brincar. Com o equipamento certo, o recreio estará vivo todo o ano, mesmo nas estações das chuvas. A introdução de materiais naturais estimula a exploração sensorial, a criatividade e o desenvolvimento físico e emocional, fortalecendo o sistema imunitário e o desenvolvimento integral das crianças promovendo escolas mais humanas, inclusivas e sustentáveis. Mais do que a ocupação dos tempos de intervalo, o recreio deve ser um ambiente de aprendizagem ativa, uma extensão da sala de aula que liga os conteúdos curriculares ao meio envolvente.

Das condições mínimas às sombras, vistas e chão fértil

Das condições mínimas às sombras, vistas e chão fértil

A cerca 15 minutos a pé do parque infantil que a Serpentina está a requalificar, existe um outro a gritar por ajuda! O Parque Infantil das Fontaínhas é um espaço murado, cimentado, sem sombras nem vistas. Com uma intervenção mínima, de baixo custo, seria possível restituir a dignidade a este lugar de brincadeira. 

Durante as nossas pesquisas, descobrimos fotografias do parque infantil original, onde existiam árvores, era possível ver o rio e as estruturas eram mais desafiadoras e sustentáveis. A nossa ideia passa então pela a demolição dos muros que hoje vedam e isolam o parque, integrando-o na alameda das Fontaínhas e tornando-o um espaço aberto à comunidade e ao uso intergeracional. Não sendo possível voltar a dinamizar a antiga biblioteca aqui existente, desativada há vários anos, esta poderia renascer como casinha de brincadeiras, um refúgio de fantasia para as crianças.